No começo dos anos 2000, bandas como Meshuggah e Tool popularizaram
os conceitos de polirritmia para o mundo do Metal, com andamentos
complexos, constante mudanças no tempo da música, riffs “quebrados” que a
cada vez que se repetiam mudavam de dinâmica, e sem uma estrutura de
composição definida (verso-refrão-verso? nem pensar). Esses novos
conceitos influenciaram uma legião de novas bandas, recebendo ou até se
auto-intitulando com rótulos esdrúxulos como “math metal”, “technical
metal” e “groove metal”. Algumas dessas bandas eram realmente boas e
originais, outras claramente apenas pegavam carona na novidade.
Uma
das bandas a se destacar nessa leva, os franceses do Gojira construíram
uma carreira sólida, se distanciando do rótulo de “filhotes do
Meshuggah” e construindo uma identidade própria, ganhando um certo
renome dentro da vanguarda do heavy metal. Esse processo culminou com a
banda assinando com uma grande gravadora (Roadrunner Records) e no
lançamento de L’enfant Sauvage (2012).
Como sempre ocorre quando
uma banda passa para uma gravadora maior e mais popular, havia uma
expectativa em volta do lançamento de L’enfant Sauvage, pois muitas
bandas quando passam por situação parecida acabam caindo no óbvio,
perdendo a originalidade e diluindo a identidade da banda numa tentativa
de se tornar mais “comercial”. Felizmente não foi o que ocorreu com o
Gojira. Apesar de uma pequena reduzida na duração total do disco em
relação aos discos anteriores da banda, a sonoridade e identidade da
banda foi mantida, e o disco realmente soa como uma etapa da evolução
natural na sonoridade deles.
L’enfant Sauvage conta com todos os
elementos que tornaram a banda reconhecida, e mostra uma maturidade nas
composições não só nas letras mas também nas ambientações e progressões das músicas. Estão lá os riffs de guitarra cheios de
harmônicos e dinâmicas complexas, a sobreposição de vocais agressivos
com vocais melódicos,e um sólido trabalho da cozinha, com destaque pra
sonoridade “orgânica” da bateria, algo que muitas bandas similares
acabam deixando de lado com baterias programadas por softwares de
computador.
Sendo um dos principais representantes deste
relativamente novo nicho do Metal, o Gojira mostra em L’enfant Sauvage
que estão prontos para dar o próximo passo e almejar um maior sucesso
comercial, sem abandonar sua identidade.
Lucas Peixoto.
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